Entrevista com o advogado Arimateia Dantas

Por Paulo Machado / paulomachado963@gmail.com

Arimateia Dantas
Arimateia Dantas

Muito conhecido por suas lutas populares, Arimateia Dantas Lacerda nasceu em Juazeiro do Norte, Ceará, no dia 18 de março de 1962. Em 1977  ele veio morar no Piauí. Formado em Direito pela Universidade Federal do Piauí, em 1986. Mas foi em Esperantina – PI onde o talentoso advogado construiu parte do seu sucesso, onde chegou a ingressar na política partidária. Arimateia Dantas é autor da Lei do Dia de Debate sobre o Orgasmo, algo inusitado que colocou Esperantina na imprensa internacional.

Hoje Arimateia Dantas mora em Teresina, onde advoga e se dedica ao trabalho voluntário da Força Tarefa Popular, organização não governamental de combate à corrupção. Nesta entrevista concedida ao repórter Paulo Machado, em São Paulo, Arimateia Dantas fala aos leitores do PORTALESP sobre os vários aspectos de sua vida: projetos, sonhos realizados, vitórias e desilusões. Por suas lutas, fé e esperança, Arimateia Dantas é um vencedor e seu nome se tornou conhecido pela imprensa nacional e internacional. Nosso entrevistado tem a habilidade de se expressar com tamanha desenvoltura e emoção, algo inerente a grandes escritores.

Paulo Machado (PORTALESP) Quando e por que você foi morar em Esperantina?

Arimateia Dantas – Cheguei em Esperantina pra morar por volta de 1989. O CEPES, Igreja e o sindicato, precisavam de um advogado. Havia concluído o curso e minha atuação no movimento estudantil era visto com simpatia pelas entidades. Fui para Esperantina para ser advogado. Tempos difíceis para mim porque havia saído da faculdade e me defrontei com conflitos de terra pesados, quando os coronéis ainda mandavam. Tempos de final da ditadura militar. Aprendi muito nestes dias, Esperantina foi minha segunda faculdade.

Paulo Machado (PORTALESP)O que você conseguiu realizar para o povo durante o seu mandato de vereador pelo PT em Esperantina ?

Arimateia Dantas – Acho que o ponto mais importante foi fortalecer o debate sobre a transparência na gestão municipal.  O acesso às prestações de contas que vinha sendo uma luta anterior ao mandato e articulada pelo movimento social ganhou mais força.  Estimulamos o acesso do povo e o estudo das prestações de contas. Esta prática levou a sociedade a se movimentar e investigar se as obras estavam sendo realizadas.

Na época era oposição e tinha poucos aliados, o que dificultava aprovação de projetos de lei. Lembro que apresentei um para que o município colocasse quadros acrílicos nas escolas. Não passou. Hoje todas as escolas têm.

Devido a falta de apoio no parlamento intensifiquei a luta popular. Neste sentido lembro a luta pela implantação do ensino médio em várias comunidades, entre elas Jacaré da Vermelha.  Foram  mobilizadas várias comunidades, inclusive com abaixo assinados entregue ao prefeito da época, Chagô, já falecido. Também apresentamos ao Ministério Público denuncia sobre a falta de escolas o que reverteu em acordo entre o Município e o MP com escola e transporte para os alunos da região do Jacaré da Vermelha.

A ampliação de energia elétrica para o bairro Bezerrão foi uma luta de rua. Além de articular entidades em passeatas e entregas de documentos a CEPISA em Esperantina, foram levadas caravanas para Teresina, inclusive em pau de arara. O mesmo fizemos com o problema da falta de água na época que era grande no conjunto Mão Santa, Coebe, Vila solidariedade. Esta luta da água se estendeu para os municípios de Matias Olimpio, Batalha, Luzilandia, Pedro II e Lagoa de São Francisco. A mobilização popular foi o que mais se destacou no mandato.

Por fim, o projeto de lei sobre o dia de debate sobre o orgasmo foi o que mais chamou atenção da sociedade, e com impacto nacional e internacional.

Paulo Machado (PORTALESP) – Em que áreas você atua como advogado? Em que cidades já trabalhou?

Arimateia Dantas – Comecei trabalhando no Sindicato dos Trabalhadores Rurais e CEPES, em Esperantina. No inicio fiz de tudo. Seria um clínico geral. Depois fui me especializando em posse. A atuação política despertou o trabalho de controle social da gestão pública.  Atualmente trabalho com direito previdenciário e consumidor. Continuo no controle social do poder público atuando na força-Tarefa Popular, com trabalho voluntário. Tenho atuado nas cidades de Esperantina, Batalha, Matias Olimpio, Luzilandia, Pedro II, Teresina, entre outras.

Força tarefa popularPaulo Machado (PORTALESP) – Fale do seu trabalho voluntário como fundador da ONG Força Tarefa Popular.

Arimateia Dantas – É um trabalho que me realiza como ser humano e profissional. O trabalho da FTP exige muito em todos os sentidos. Quero destacar a parte que requer continuada esperança no ser humano. Tenho visto tanta crueldade praticada pelos gestores que refletem a desumanização de grande parte destes agentes públicos.  É emblemático pra mim o desvio de recursos de uma maternidade.  Os corruptos tiram dinheiro que daria mais vida e dignidade aos fetos. Nem os fetos escapam e por isso registro a crueldade destes criminosos. Eles são tão violentos quanto os marginais expostos nos programas policiais, contudo, são covardes porque se escondem atrás de mandatos e favores. Os bandidos tradicionais se expõem.  O desvio de recursos públicos tem como vitimas milhares de pessoas que ficam sem merenda escolar, sem ruas, sem remédios, sem esperança.

Na outra ponta pessoas que lutam para acabar com esta situação. É neste contexto em que a esperança no ser humano se revitaliza. Lembro agora das nossas marchas. Agora em 2013, última marcha, houve um dia que caminhamos 38 km, inclusive subindo e descendo a Serra das Confusões entre Guaribas e Caracol. Nas fileiras cerca de 40 pessoas, sendo uns 10 de São Paulo, Brasília, Bahia, Ceará, além dos piauienses. Todos jovens e desconhecedores da dor física que iríamos se submeter. Eles e elas suportaram com civismo. Ao fim da caminhada (120km) todos reafirmaram que fariam tudo outra vez.

Na caminhada viram pedaços de adutoras abandonadas enquanto o sertanejo mendigava por água entregue por carros pipas eternizando a indústria da seca.  Viram construções de universidade abandonadas e tantas outras cenas cruéis.  A saga anima a crença que podemos mudar o mundo pra melhor e que o bem pode sim vencer. Outro aspecto importante são as denúncias.  Hoje as autoridades tem conhecimento de fatos que viviam escondidos no sertão e em lugares esquecidos.  Depois de 13 anos de marchas, estamos organizando o aprendizado para entrar numa nova fase que será a busca dos resultados e os ganhos da sociedade.

Paulo Machado (PORTALESP) Que resultados concretos a Força Tarefa Popular já alcançou?

Arimateia Dantas – Muitas obras fantasmas ganharam vida com nossas denúncias. Lembro agora de calçamentos, poços, escolas, banheiros,  melhoria na qualidade da merenda escolar, câmaras municipais abertas para o povo, etc.

orgasmoPaulo Machado (PORTALESP) – O que lhe inspirou a criar o projeto de Lei de comemoração ao Dia do Orgasmo em Esperantina?

Arimateia Dantas – É uma longa história. Resumidamente tudo começou com uma relação sexual onde tive orgasmo primeiro. Senti que a querida companhia não havia tido o seu. Descobri pela cara triste e sem assunto. O que passou na minha cabeça: Tenho lutado pela felicidade das pessoas para terem o mínimo de dignidade na vida, politicas pública de qualidade, etc.  Estou aqui satisfeito sexualmente e não seria ético ou mesmo humano fazer de conta que tá tudo bem. Não seria politicamente correto. Foram alguns segundos que pareceram horas. Houve um grande debate na minha consciência. Eu sabia que devia fazer alguma coisa.

Tinha vergonha de perguntar se ela tinha gozado. Resolvi perguntar.  A cultura machista estava em crise profunda e com muita dificuldade a pergunta saiu. Você gozou? Neste momento parecia que uma pedra enorme havia saído de cima de minha alma. Foram segundo de grande luta interna. Foi lindo, extasiante, revolucionário , libertador. Minha alma ficou leve e naquele momento um horizonte se abria na minha vida e eu ainda não sabia da sua dimensão. Findos estes segundos ela me olhou com um olhar sério, triste, mas com uma certa doçura e outro sentimento gostoso que não sei descrever, disse: Não! A resposta levou a outras perguntas onde o mundo íntimo foi partilhado e numa nova e mais respeitosa relação o orgasmo se deu.

As consequências da pergunta continuaram.  Após o encontro não parei mais de pensar. Naquela mesma noite analisei a alegria da conquista e o momento do si entregar. Risos, olhares ativos, gemidos, brincadeiras … felicidade ampla. Depois do meu prazer não havia mais nela a alegria de antes. Ela sairia triste, eu estava sendo egoísta… Veio então a pergunta que começou a nortear a luta do orgasmo. Quantos casais não se separam ou são infelizes por que esta pergunta não é feita? Quanto é difícil para os homens fazer a pergunta “Você gozou?”. O machismo impregnado em toda a sociedade constrói respostas falsas e justificativas covardes para que o silencio do orgasmo continue.

Na manha seguinte as reflexões continuaram e vinham na minha cabeça sem serem chamadas. Eu tinha que fazer algo! O que?  Estava analisando um processo e do nada chegava a lembrança de que muitos casais poderiam ser mais felizes e isso fortaleceria a família, os casais, a sociedade e o próprio Estado. O orgasmo é qualidade de vida! A ideia começava a adentrar no campo da política, organização da sociedade.  Se o machismo  não deixa as pessoas físicas falarem que o Estado faça a pergunta. Que o Estado levante a bandeira. O orgasmo é qualidade de vida!

Era um dia de outubro de 2000, faltavam apenas 2 meses para acabar o  mandato de vereador, vi que não poderia perder este espaço institucional. Ouvindo Legião Urbana comecei a redigir a lei.  Não tinha uma idéia feita, sabia que tinha que fazer. Fui digitando e tomado por um redemoinho de motivação, caminhando para um tipo êxtase, a lei surgiu. Construir a justificativa foi um passeio, um prazer, as letras dançavam na tela como se fossem pétalas caindo lentamente exalando um aroma sentido pela alma. Quando terminei  e tinha nas mãos o projeto senti um orgasmo humanitário. Sabia que ali estava sendo dado um passo importante, mesmo que morresse a idéia sufocada pela cultura machista e outros preconceitos. Algo tinha sido feito. O orgasmo agora poderia ter mais voz e o Estado, quem sabe, poderia fazer mais amor e menos guerra!

Paulo Machado (PORTALESP) – A mulher que lhe inspirou a criar a data do Dia do Orgasmo já sabe que foi a musa inspiradora dessa data?

Arimateia Dantas – Quando comecei a fazer a reflexão sobre o orgasmo nesta perspectiva varias lembranças foram resgatadas. Uma merece ser partilhada. Certa vez após fazer amor a companheira olhando para as telhas e creio, motivada pelos meus discursos políticos por igualdade, etc, disse: “… isto é uma coisa que pobres e ricos tem!”. Eu disse: É! No período das reflexões este fato teve grande importância porque apesar de pobres e ricos poderem ter orgasmos, nem sempre este divino prazer é vivido pelo casal e na grande maioria das vezes é a mulher que fica privada. Neste aspecto não há privilegio de classe. Para onde vai então toda a energia criada pelas turbinas da usina da sexualidade.

Onde e como ficará o resultado do processo químico deflagrado dentro do corpo frustrado? Estas perguntas vinham como força propulsora a motivar uma atitude. Eu fui construindo de retalhos da vida até a inspiração se completar, ganhar forma ideológica e material. Acho que elas  não sabem da contribuição que deram para a criação deste dia. Não comentei como as companheiras. As coisas foram acontecendo e a vida foi nos afastando e quando o assunto ganhou dimensões as relações haviam perecido. Vim morar em Teresina e perdemos o contato.

orgasmo faixaPaulo Machado (PORTALESP) – Fale sobre o grande destaque que a imprensa nacional e internacional vem dando sobre a criação do Dia do Orgasmo. Isso é positivo para você e Esperantina?

Arimateia Dantas – Devo esclarecer que a Lei trata da criação do Dia de Debate sobre o Orgasmo, ressalto debate. Não é um dia de exaltação do orgasmo. Lembrando que o objetivo é trazer o debate para o seio da sociedade para tornar possível a reflexão civilizada e sem preconceitos sobre o prazer. Um debate sobre a sexualidade humana protagonizada pelo Estado-município. Esta luta tem mostrado que não dispomos de uma política pública para a sexualidade brasileira.

Os homens são os que mais sofrem com isso. Pense em um lavrador com impotência e mais a agravante da cultura machista. Como ele vai buscar ajuda? Como ele se sentirá como homem? O suicídio tem sido uma alternativa usada.   Quem se preocupa com isso? Câncer de pênis que mutila tantos homens é um sinistro desconhecido do mundo masculino.  Os homens são abandonados a própria sorte. As mulheres felizmente tem políticas publicas que lhes permitem uma sexualidade mais saudável. A vacinação em massa contra o HPV é exemplo disso, assim como as campanhas de prevenção de câncer de mana.

O impacto na mídia nacional e estrangeira não estava nos meus sonhos. Sabia que seria possível a pauta nos meios de comunicação do Estado. Pra mim foi uma loucura quando a mídia nacional abordou o tema. Tentei aproveitar o máximo para dar voz ao orgasmo, colocar na ordem do dia uma espécie de ética sexual, o orgasmo como partilha, solidariedade, fonte de saudável de fortalecimento de relações humanas, qualidade de vida. O orgasmo como diferenciador da copula animal. O orgasmo como agente natural da reumanização.

Para Esperantina foi positivo sim! As reações nos primeiros anos foram horríveis. Pessoas interpretavam de forma pornográfica a Lei e davam opiniões preconceituosas. Com o tempo, as notícias boas sobre o assunto ganharam visibilidade, de forma que hoje há uma legitimidade maior da Lei e Esperantina foi a primeira cidade no mundo que tratou o orgasmo como questão de interesse público sacramentado em Lei. Acho que os prefeitos poderiam aproveitar o potencial turístico da cachoeira, eventos como o Luau e a história do orgasmo, pois a cidade hoje faz parte da historia da sexualidade humana. Há cidades conhecidas pela violência, Esperantina é lembrada no mundo pelo orgasmo, a fonte primaria da vida, o amor.

Paulo Machado (PORTALESP) – Fale sobre a sua família. Teve influencia dos seus pais na escolha da carreira?

Arimateia Dantas – Não. Meu pai queria que eu fosse médico. Andei perto de fazer o vestibular pra medicina. Uma semana antes de fecharem as inscrições um colega falou de uma reportagem sobre um juiz que mandou prender vários poderosos de uma cidade. Fiquei empolgado e vi naquele momento que meu caminho era o Direito.

Paulo Machado (PORTALESP) – Cite um fato marcante que você vivenciou como político em Esperantina.

Arimateia Dantas – Foram tantos e importante que escolher um é difícil. Vou relatar um que veio primeiro na lembrança sem desprestigiar outros. Foi a luta por escolas na zona rural. Foi uma mobilização muito bonita e motivadora. Mães, pais, filhos, irmãos todos juntos com abaixo assinados, coleta de dinheiro para pagar carros para transportar pessoas para a manifestação, o hino nacional sendo cantado com braços e punhos erguidos. O povo na rua lutando fazendo a sua história. O acordo com o Ministério Público, prefeito e nossos camponeses, assegurando escola e transporte foi deliciosamente  marcante.

Paulo Machado (PORTALESP) – O que de mais difícil o político é obrigado a enfrentar quando chega ao poder?

Arimateia Dantas – Eu não cheguei ao poder. Minha atuação como vereador e atuando em outras candidaturas, digo que pra mim, o mais difícil foi ser vitima de chantagem de eleitores que vivem de estimular a corrupção, vivem de corromper os políticos (os bons e maus). O marco da minha desventura política foi quando um eleitor me pediu dinheiro e eu disse que não tinha, pra não ser grosseiro, e sair de perto. Ele teve tempo de retrucar: “Aceito cheque!”. Foi impactante e naquele momento começava a morrer um ativista político partidário. Não suportaria me submeter a esta humilhação. Depois, e pela última vez, fui candidato a vereador em Teresina com o fim de levar o debate da sexualidade para a capital. “Sexualidade: Faça da luta um prazer!”, este foi tema da campanha. Perdi.

Paulo Machado (PORTALESP) A corrupção dos políticos no Brasil pode ser resolvida? Ou pelo menos amenizada?

Arimateia Dantas – A corrupção é obra humana, como tal o homem ou mulher podem resolver. É difícil, mas não impossível. Na FTP e conhecendo outras ONGs que lutam contra a corrupção, posso afirmar que a corrupção pode ser resolvida. A idéia de impossibilidade de acabar com a corrupção é construção ideológica de quem a pratica. Ao achamos que é impossível nos acomodamos. Na FTP temos exemplos de histórias construídas com ação social que trouxe para o mundo material escolas, ruas, poços, etc que viviam no mundo dos papéis de prestações de contas. Temos que aumentar nosso contingente de ativistas, motivar a sociedade a denunciar, pressionar o  Ministério Público e a Justiça a cumprirem seu dever de denuncia, investigar, julgar e punir com rapidez os gestores desonestos. É possível sim acabar com a corrupção e a luta da FTP é uma prova disto.

Aproveito para partilhar uma reflexão que tem ganhado corpo nossa caminhada.

Os políticos que governarão o Brasil e o mundo em 2150, isto mesmo 2150, não nasceram, não existem ainda. Em tese, olhando para o futuro não temos corruptos pelo simples fato de não haver ninguém neste futuro projetado. Os seres humanos do futuro terão outra mentalidade.

No mundo de hoje sofremos com as punições rigorosas devido a violações das leis da natureza. As grandes potências e Países pobres sofrem igualmente com as variações climáticas, seca, tsunamis, tornados, deslizamentos, etc.

As leis naturais não são corruptíveis, o Grande Juiz não busca os ouros do capital, das bolsas de valores ou do jogo do bicho.

As consequências punitivas da natureza   em curso vão moldar o comportamento da humanidade do futuro. Tenho certeza que por força desta conjuntura o homem predador, egoísta, consumista, corrupto e corruptor, vai construir outra cultura. Não que mudaremos por decreto ou porque nos tornamos bonzinhos de uma hora pra outra. A situação é simples: ou mudamos de comportamento ou a natureza nos pune com a extinção. Claro assim, simples assim: extinção da espécie! A escolha, portanto será continuar vivendo, alias é a lei da sobrevivência que nos obriga. Esta lei já existia nos tempos da caverna. Para continuar a saga humana na terra diante dos estragos e da punição natural o ser humano terá que construir a cultura da partilha, do  companheirismo, da solidariedade, do amor ao próximo, sustentabilidade.

Estas relações não se coadunam com a corrupção e as investidas deste comportamento terão repreensões mais eficazes, rigorosas e rápidas. Isto se dará porque o processo histórico que vivenciamos hoje, inclusive com a destruição da natureza e sua punição bravia, tem haver integralmente com atos de corrupção praticados em busca do aumento do capital material e  em detrimento do capital humano.

O processo de reumanização da nossa espécie possibilitará uma reflexão saudável para uma vida voltada para as leis da natureza buscando a harmonia perdida e que um dia existiu. Neste contexto não há lugar para a corrupção e esta opção será tomada de forma consciente e verdadeira. A opção de extinção da espécie não será tomada  e para isso a alternativa é cultuarmos valores onde a sustentabilidade e a intolerância a corrupção são inegociáveis para o sucesso da continuidade da espécie.

Paulo Machado (PORTALESP) – Como você analisa a chegada do Partido dos Trabalhadores ao poder? No passado imaginava que isso aconteceria?

Arimateia Dantas – O PT na verdade não chegou ao poder. Ele não governa só e sentimos que é refém de interesses que não tem nada com nosso projeto político original. Não imaginava que chegaríamos tão cedo ao poder e muito menos que estaríamos aliados a inimigos históricos. Hoje estou longe das atividades partidárias e faço a política de controle social do Estado. Tenho independência partidária e isso me deixa muito feliz.

Paulo Machado (PORTALESP) – Sua opinião sobre o acontecimento que resultou na prisão dos condenados do mensalão.

Arimateia Dantas – O mensalão, independentemente dos questionamentos jurídicos ou morais, será um marco na história da luta contra a corrupção. A prisão de altos agentes políticos, deputados, ex-ministros, banqueiros, etc reflete no imaginário popular e alimenta nosso discurso de que corrupção dar cadeia sim! Serve de exemplo para a nova classe política pensar que ao enveredar pela via escura  da corrupção pode encontrar o sol escaldante da punição. Por outro lado toda a história do processo  motiva o controle social a seguir em frente.

Paulo Machado (PORTALESP) – Que projetos seus ainda quer ver realizados?

Arimateia Dantas – São muitos. A lei do dia de debate sobre o orgasmo aprovada pelo Congresso Nacional, uma marcha nacional contra a corrupção, uma campanha nacional contra a corrupção com a de combate ao mosquito da dengue sendo diária e sem prazo para acabar, fortalecer a atuação advocatícia em defesa da qualidade de políticas públicas levando para o Judiciário demandas populares, um longa metragem narrando a luta de uma cidade pequena contra a corrupção e depois de muita ação terminar com os corrutos presos, sendo a ultima cena uma mulher gravida dando a luz a uma criança que nascerá numa cidade mais justa, um livro sobre o dia do orgasmo, etc.

Paulo Machado (PORTALESP) – Você é uma pessoa de muita popularidade. Gosta de estar sobre os holofotes? Como lida com isso?

Arimateia Dantas – Gosto sim de “holofotes”! Gostei mais. Hoje aproveito politicamente os holofotes para pregar a minha fé no ser humano, que podemos nos redimir de nossos erros e construir um mundo humano. Uso os holofotes para combater a corrupção, estimular o povo a lutar por seus direitos, etc. Quando encontro espaço falo sobre o orgasmo. Isto só acontece pelo mês de maio.

Paulo Machado (PORTALESP) – Conte como era a Esperantina da época em que você chegou para morar lá.

Arimateia Dantas – Uma cidade pacata, inocente, injusta socialmente com as quebradeiras de coco e de grande força cívica.

Paulo Machado (PORTALESP) – Como você ver a Esperantina da atualidade?

Arimateia Dantas – Tenho ficado pouco em Esperantina. Acho uma cidade sem muita motivação de lutas sociais mesmo diante de tantos problemas.

Paulo Machado (PORTALESP) – E o que você arriscaria a dizer sobre o futuro de Esperantina?

Arimateia Dantas – Bons ventos sopram para Esperantina e ela será uma grande cidade.

Paulo Machado (PORTALESP) – Você pratica alguma religião? Como busca a sua verdadeira força interior e filosófica?

Arimateia Dantas – Sou cristão e católico pouco praticante. Agora com o Papa Francisco  me sinto motivado a voltar a praticar mais. Sou um ser místico ao crer na força do universo e na existência de uma energia superior a qual chamo de Deus. Creio que somos partes da grande divindade e por isso não perco a fé no ser humano.

Quando estou fragilizado sem fé na luta (minha grande motivação pessoal) visito favelas ou lugares de grande sofrimento humano motivado por nossos semelhantes. Constatar esta realidade detona uma raiva cívica que desencadeia um processo de indignação e que na ponta sai motivação para reagir e continuar lutando. Contraditório.

Tiro da miséria força para continuar caminhando. Não é só isso! As vitórias, também, são cultuadas e são as provas materiais de que VENCEREMOS! Fui visitar outro dia moradores da comunidade Buritizinho do Geraldo, em Castelo do Piauí. Eles haviam recebido o poço que havia só nas prestações de contas. Ao andar nas casas e vendo a água saindo da torneiras e alegria das crianças banhando suspirei emocionado e tomado por uma felicidade incomparável. Encontro forças no dia a dia.

A minha fé como cristão é a base mais firme que me sustenta.

Paulo Machado (PORTALESP) – Deixe uma mensagem inspiradora para os leitores PORTALESP que lerão a sua entrevista.

Arimateia Dantas – Acredito no ser humano. Apesar de todas as atrocidades veiculadas nos programas policiais é possível reverter a situação. Há milhares de voluntários fazendo trabalhos magníficos longe da mídia e salvando vidas, salvando sonhos, salvando a terra. Temos exemplos diários de pessoas que se doam ao próximo, inclusive com a própria vida. Estamos cheios de histórias humanas que reduzem os noticiários policiais a pequenos contos de terror. Sem muitas pretensões vamos fazendo parte desta bela história. Há espaço para mais gente. Aproveito para convidar o leitor. Nesta caminhada seu lugar é você que escolhe!

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