
“Deitado eternamente em berço esplêndido” não é só um trecho do nosso hino. É uma descrição poética do Brasil.
Um retrato de um país dotado de beleza natural exuberante e localização privilegiada, vivendo em um estado de plenitude — ou melhor, de passividade.
A cada quatro anos, a promessa de um hexa no futebol e na política. Mas, na prática, nada muito épico aconteceu desde 2002.
Cantamos que “o sol da liberdade, em raios fúlgidos, brilhou no céu da pátria nesse instante”, mas a maioria nem sabe o que isso significa.
Não sabe o que é fúlgido.
Não sabe o que foi o instante.
Não sabe o que é liberdade.
Falta vocabulário. Falta história. Falta vontade.
Decoramos refrões de músicas virais com precisão cirúrgica. Reproduzimos cortes de podcast como se fossem filosofia. Sabemos a coreografia da trend, mas não lembramos 2/3 da segunda parte do hino.
A primeira parte até que vai, especialmente quando toca antes do futebol de domingo à tarde.
Nas escolas, a sexta-feira recital, que antes era utilizada para cantar o hino do Brasil e da bandeira foi esquecida.
Boa parte dos professores de hoje em dia já nem sabem dizer se o trecho “se ergues a justiça da clava forte” é parte do hino ou não.
Agora, como esperar grandeza de um povo que não compreende seu hino?
Não é discurso patriota ou nacionalista, é só um convite para refletir.
Hoje, 203 anos depois do grito às margens do rio Ipiranga, é provável que você não saiba quem foi o primeiro presidente do Brasil, nem quando foi promulgada a Constituição vigente.
Ditaduras por aqui? Poucos sabem que foram duas.
Mais uma vez, não é preciosismo, até porque saber nomes de presidentes e as bandeiras que o país já teve não te faz mais rico ou melhor no trabalho.
Mas um país que menospreza sua história acaba sempre ficando pra trás, fadado a se iludir com promessas, fantasias bem contadas e teorias da conspiração.
O conhecimento liberta e só ele te aproxima da verdade. Não é sobre tradição. É sobre pensar por si próprio e formar suas próprias convicções.
Ainda mais em um momento onde o futuro é cada vez menos global. Xi Jinping foi visto usando a roupa que Mao Tse utilizava na semana passada.
Na sexta-feira, Trump mudou o nome do Departamento de Defesa para Departamento de Guerra.
A verdade é dura: muitos brasileiros conhecem mais Odete Roitman do que Duque de Caxias.
Tiradentes é só aquele feriado prolongado. Santos Dumont é mais celebrado na Cartier de Londres do que pelos próprios brasileiros.
Tente citar 10 heróis nacionais que não sejam atrelados ao esporte ou ao entretenimento. Difícil, né? Como podem ser belas as aulas de história.
Talvez seja por isso que tenhamos virado massa de manobra. Sem raiz e sem convicção. Inflação nas alturas e dívida pública recorde.
Não há progresso onde se despreza a própria origem e o significado das coisas. Não há futuro onde o passado foi deixado de lado.
O Hino Nacional é mais do que um rito — é o resumo do que deveriam ser os valores da nação. No nosso caso: coragem, justiça, grandeza, luta, esperança.
Você quer um país melhor? Então comece aprendendo o hino.
Recite. Compreenda. Ensine. Honre.
Brasil, um sonho intenso, um raio vívido
De amor e de esperança à terra desce,
Se em teu formoso céu, risonho e límpido,
A imagem do Cruzeiro resplandece.
Gigante pela própria natureza,
És belo, és forte, impávido colosso,
E o teu futuro espelha essa grandeza.
Terra adorada,
Entre outras mil,
És tu, Brasil,
Ó Pátria amada!
Dos filhos deste solo és mãe gentil,
Pátria amada, Brasil!
